domingo, 13 de março de 2011

A Última Noite de Boris Grushenko (Love and Death, 1975)


Woody Allen tornou-se conhecido por sua forma particular de escrever e filmar comédias, que funcionariam, a princípio, como um mecanismo de escape para suas neuroses próprias do homem moderno, letrado, ocidental, de boa posição social, embargado por indagações existencialistas e, ocasionalmente, judeu. Como extensão disso, grande parte de seus filmes (até uma renovadora mudança de rumos nos anos 2000) foram ambientados em sua amada Nova York, que foi alçada à posição de personagem sempre homenageada.

Daí chamar atenção esse distanciamento de ares e época que promoveu por ocasião da realização de “A Última Note de Boris Grushenko”. O protagonista, mencionado no título em português, surge como uma versão de Allen que cresceu na Rússia entre fins do Século XIII e início do seguinte. O filme se apresenta como uma produção de época, harmonizada com a bela fotografia e a música erudita de câmara. Entretanto, o diretor não demora a revelar o tom de sua paródia, que em alguns momentos recai para o pastiche, mas na maior parte do tempo revela a intenção de fazer a sua conhecida comédia de neuroses e divagações existenciais embalada em um ambiente diferente.

Assim, os russos, desde o início, surgem em versões caricatas, irremediavelmente ofensivas e politicamente incorretas, ao gosto de seu observador imediato. A precisão histórica tampouco está entre as suas preocupações. Não falta nem mesmo um negro (hoje se deve dizer afro-americano), em um momento isolado, fazendo um papel estereotipado e hilariante.

É possível vislumbrar muitas fontes de que Allen tenha bebido para compor a sua sátira histórica, muitas vezes com a intenção de descontrui-las, como os refinados longas de época filmados em cinemascope, a obra poética de T. S. Elliot e a defasada técnica de declamação de pensamentos pelas personagens. Mas há também claras e explícitas menções às obras da literatura russa, em especial as de Tolstoi (cujo Guerra e Paz dá o principal pano de fundo) e Dostoievski. Se, por um lado, Allen demonstra não acreditar que aquele povo sujo e brutalizado pudesse ter divagações existenciais profundas, por outro revela guardar bastante respeito por aquela produção artística, que nas últimas décadas recebeu o devido reconhecimento dos círculos acadêmicos ocidentais como um dos ápices da produção artística em prosa.

Muito embora Allen ocupe a tela durante quase todo o tempo do longa, os créditos principais são divididos com a então jovem e bela Diane Keaton, primeira musa do diretor (antes de Mia Farrow, que tomaria o lugar também como namorada), no papel de Sonja, aspiração amorosa (e não correspondida) de Boris, que reúne os atributos que parecem representar a perfeição feminina para o roteirista e diretor: beleza incontestável, inteligência aguçada, sensibilidade e apetite sexual insaciável, para fazer frente à sua conhecida fixação por sexo. E a graciosidade e o timing para a comédia de Keaton são sempre agradáveis de ver.

É nas interações entre Allen e Keaton que surgem talvez os melhores momentos do longa, com diálogos hilários e ao mesmo tempo repletos de significação questionadora, regados pela boa química entre os dois, que chegaria ao ponto máximo em seu filme seguinte, “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” (Annie Hall, 1977).

Como um suposto filme de época, não poderia faltar o icônico pano de fundo das campanhas militares. Pouco depois do início, revela-se que a França de Napoleão invadiu a Áustria e tem a Rússia como próximo alvo. Logo os russos decidem reunir o exército para impedir o ataque do tirano, e Boris deve participar da empreitada militar, bem a seu contragosto. Allen aproveita as cenas de treinamento militar e de manobras de guerra para experimentar com o mais puro humor físico, em momentos à maneira da comédia vaudeville e do cinema mudo (Buster Keaton, Charles Chaplin), para tratar da insanidade da guerra e da impossibilidade de, em sua ótica, retirar de tal tragédia humana qualquer senso de honra ou heroísmo.

Não só no ambiente da guerra, mas os questionamentos filosóficos sobre a vida, a espiritualidade e a morte são os temas recorrentes do longa, como o título original não titubeia em antecipar. Em um roteiro marcado pela verborragia incessante, própria do autor, que parece não conseguir fazer com que sua mente se cale um só momento (e sinta a necessidade de fazer o espectador participar desse cansativo e neurótico processo), há espaço para toda uma gama de divagações filosóficas (existencialismo, niilismo, agnosticismo, metafísica idealista, ética utilitarista, imperativo kantiano), que podem ser tomadas como simples blá-blá-blá nonsense pelo observador mais desatento ou pouco conhecedor de todos esses “ismos”. Embora não se possa afastar o pedantismo do autor, é uma delícia acompanhar o seu raciocínio rápido e mordaz.

Não podem deixar de ser mencionados, neste breve e amadorístico exame do filme, as experimentações de linguagem do diretor, que avançariam no já mencionado Annie Hall, bem como as ótimas soluções estéticas, em que se destaca a figura da morte como um ser espectral carregando uma foice envolto por um grande lençol branco.

Mesmo em um ambiente completamente diverso do seu habitual, Allen termina por manter as suas sempre repetidas perguntas, as quais alimentam suas neuroses que não podem ser aplacadas por décadas de psicoanálise. Surpreendentemente, na penúltima cena do longa, o próprio diretor, por meio de seu sofrido alter ego, revela, de uma forma bastante didática, as respostas que pôde retirar de suas desventuras.

A cena que encerra o filme e abre os créditos, de uma beleza regada por um pessimismo alegre (ou seria otimismo tristonho?) já entrou para os anais do cinema.

Épico histórico, filme de guerra, comédia pastelão ou existencialista? Não é preciso rotular grandes obras, e “A Última Noite de Boris Grushenko” é, sem sobra de dúvida, uma delas.

Nota: 86
By Nomager

terça-feira, 1 de março de 2011

Modelitos do Oscar 2011

Não dá para deixar passar em branco os modelitos usados no Red Carpet. A começar pelas duas atrizes vencedoras do Oscar de melhor atriz e melhor atriz coadjuvante, respectivamente, Natalie Portman e Melissa Leo não erraram. Estão extremamente adequadas para a situação de gravidez e acima de 40 anos de idade. Natalie Portman ainda fez homenagem usando roupa da Rodarte, grife que criou os figurinos de "Cisne Negro". Melissa Leo foi de Marc Bouwer.
Agora vamos aos erros e acertos.
A começar pelas campeãs da noite. Para mim, a número um foi Scarlett Johanson, com seu lindo Dolce & Gabbana, e seu cabelo em um chanel descontraído. O decote nas cotas está sexy, mas nada vulgar. Perfeito!!!!! Nota mil!!!!  
O segundo lugar fica com Anne Hathaway e seu estonteante vestido vermelho Valentino. O batom vermelho, de mesma tonalidade do vestido ficou perfeito. A cor deu um up na cor branquinha Branca de Neve da atriz que estava simplesmente um arraso. E isso nem falando dos modelitos que trocou durante a cerimônia do Oscar.
Hailee Steinfeld estava uma princesa!!!! Vestido Marchesa lindo, com o cumprimento nos tornozelos e o arquinho na cabeça. Está divina.
Jennifer Hudson acerto em cheio no vestido laranja da Versace, que combinou perfeitamente com seu tom de pele. E está de parabéns pela perda de peso. Só não precisava apertar tanto os peitos que parece que estão sendo esmagados. Sharon Stone não desaponta. Não importa a idade que tenha, está sempre magra, jovem, elegante. Não há críticas a fazer. E por fim, Mila Kunis estava um espetáculo em seu vestido lavanda Elie Saab. Fluido e sexy. Com rendas românticas. O cabelo estava maravilhoso, discreto. Nota 10!
Passemos agora àquelas que estavam bonitas, mas sem tanto destaque assim.
Michelle Willians, com seu Chanel discreto de cor clara, dando um ar angelical à atriz, acertou em cheio. Menos é mais. Jennifer Lawrence também está bem num longo clean vermelho, da Clavin Klein Collection. Só acho que poderia ter feito uma maquiagem mais fraca nos olhos. Seria mais adequada à tonalidade de pele e à idade. Sandra Bullock e Halle Berry também estavam elegantes, com seus modelitos Vera Wang e Marchesa, respectivamente. Eu faria apenas alguns ajustes, tirando o rabo de tule do vestido de Halle, visto que ficou meio over. E soltaria os cabelos de Sandra Bullock, para dar um ar mais jovial à atriz que já não está conseguindo esconder algumas marcas do tempo...
Agora os pontos fracos da noite...
Cate Blanchet acertou na escolha da tonalidade do vestido. Acho que vestidos claros para pessoas claras não apagam, mas dão aquele ar de inocência, que combina com a atriz. Mas precisava daqueles bordados estranhos e aquele círculo na frente. Na parte de trás, parece que caiu um monte de frutinhas podres de árvores e grudaram na roupa. Com o perdão da grife Givenchy, eu detestei.
Amy Adams, coitada, ainda não foi avisada que não dá pra colocar um monte de coisa ao mesmo tempo, que não dá certo. Tudo está demais... A começar pelo vestido de cor muito forte, pesado, invernoso, que deve ser usado sem mais nada. Nada!!! Mas como se não bastasse, precisou acrescentar um colar com uma pedra verde enorme por cima do vestido que já é todo bordado!!!! Colar que ficaria bom em um vestido simples com decote. Mas não sendo o colar suficiente, precisou de uma pulseira conjuntinho (que eu detesto), grande! E ainda não acertou nem no cabelo nem na maquiagem. Batom vermelho, por quê? Para combinar com o cabelo ruivo? Aí só faltava o blush vermelho para parecer que ela tomou sol sem protetor. E os volumosos cabelos soltos, porque, afinal, não precisava de mais nada pra sobrar em cima dela. Adora a atriz, mas está precisando urgente de conselhos na área fashion.
Outra que está deprê é Penelope Cruz. Tudo bem que ela acabou de ter filho e não tem obrigação de estar no melhor de sua forma, mas não precisa usar vestido colante, com bordados desadequados e o peito pulando para fora. Será que Javier gostou?
Gostei da escolha da cor branca para Nicole Kidman, mas aquele modelito aumenta quadril não tem nada a ver. E os bordados também não estão legais. O cabelo até poderia ter ficado com aquele ar de desarrumado proposital, mas acabou ficando com ar de quem bateu a cabeça no carro e desarrumou tudo. Acertou no bonitão a tira colo, mas em termos de vestido, já teve melhores...
Mais uma para o grupo das terríveis foi Marisa Tomei. O decote do vestido parece que foi calculado para outra pessoa, já que os seios dela ficaram bem para baixo. A cintura muito marcada deu impressão de que o quadril era imenso. E já não bastava ter um rabo bufante e desadequado, ainda é assimétrico. Nada a ver!!!! o cabelo foi escovado em casa e o brinco deve ser da tataravó dela. Incrível como as atrizes que estão envelhecendo se esforçam para parecerem mais velhas.
E por fim, a grande decepção brasileira foi Camila Alves, esposa de Matthew McConaughey. Vestido ultra simples, com um decote mostrando os seios caídos. Cabelo horrível, (mal) arrumado em casa. Ar de empregadinha. Péssimo!!!!!! Não é fácil ir a uma cerimônia do Oscar. Até atores famosos às vezes não são convidados por conta da rotatividade que tem que ser feita (ou alguém viu Jack Nicholson esse ano?). E a pessoa perde a oportunidade e vai chinfrim... Decepcionante.
Bem, não dá para falar de todas, mas essas foram as que chamaram mais atenção, para o bem ou para o mal. Infelizmente, esse Oscar não foi muito inspirador em termos de moda.