segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Oscar 2011

A  premiação de ontem não surpreendeu. Os prêmios foram dados para aqueles que já eram esperados, tirando um ou outro. Alguns deles realmente merecidos e outros com os quais eu não concordo muito.
Para mim, os fantásticos desse ano foram Natalie Portman, Christian Bale e Melissa Leo, muito bem reconhecidos pela Academia.
Christian Bale já é um dos meus favoritos atores há muito tempo. Desde o Império do Sol, em 1987, passando por Psicopata Americano, O Operário, O Grande Truque, Os Indomáveis, até Batman, Inimigos Públicos, dentre outros, e, agora, O Vencedor, nunca me decepcionei. É incrível a versatilidade e a forma de encarnar o personagem. Se O Vencedor não tivesse tantos outros bons atores, ele teria realmente roubado a cena. E em se falando de outros atores, Melissa Leo realmente merecia esse prêmio. Fazendo o papel de uma mãe bem da desequilibrada, e encarando cenas com forte carga emocional, ela realmente foi brilhante. Apesar de não ter ganhado nenhum prêmio, Amy Adams foi igualmente muito boa. É outra que já sou fã há um tempo. E cito o filme Dúvida, que particularmente acho excelente, como exemplo de seu bom desempenho em qualquer papel. Mas não há prêmios para todos e a nomeação para o Oscar já foi um suficiente reconhecimento.
Mudando de filme... Natalie Portman estava impecável em Cisne Negro. A começar pelo desempenho na dança, que já seria difícil por si só, mas transmitir os sentimentos da personagem, a agonia vivenciada, a transformação no final é algo que merece ser aplaudido de pé.
O prêmio de melhor ator também não foi uma surpresa. Já tem um tempo em que Colin Firth com seu papel em O discurso do rei tem sido o mais elogiado ator/atriz desse ano. É o grande aclamado. E não discordo que tenha sido um excelente papel. E merecido prêmio. A interpretação realmente é fantástica. Mas diferente dos outros casos de premiação de atores, não achei que houve uma grande diferença entre os outros concorrentes. Christian Bale, Natalie Portman e Melissa Leo se destacaram dentre os outros nomeados, apesar de os outros nomeados terem feito excelentes trabalhos, como Amy Adams, já destacada, John Hawkes, em Winter´s Bone, Geoffrey Rush, em O Discurso do Rei, para citar alguns. Colin Firth, por sua vez, não se destacou tanto assim. James Franco surpreende em sua praticamente interpretação solo, num filme de duas horas, conseguindo transmitir toda a agonia e desespero de uma situação em que provavelmente 99% das pessoas não teriam êxito em sobreviver. Jesse Eisenberg, pouquíssimo conhecido até então, não fica atrás, ao retratar o jovem nerd da área de computação que consegue fazer fortuna. O modo de falar, de se relacionar, a atitude, tudo, muito bem trabalhado. Jeff Bridges também está muito bem, embora não ache que tenha entrado no páreo dos demais.
Portanto, merecido o Oscar de melhor ator para o Colin Firth, mas meio apertada a disputa.
Dois importantes prêmio, entretanto, me decepcionaram, embora um deles eu já previsse: melhor filme e melhor diretor.
A direção é a forma de contar uma história, conforme ouvi em uma conversa recente e achei bem colocado. Existem várias formas de contar uma história e o bom diretor é aquele que faz de uma forma bem feita. Mas não acho que isso baste. A boa direção, aquele que merece reconhecimento, é aquela original, aquela que consegue se unir à boa atuação do ator e transmitir o sentimento, a essência do filme. Uma boa direção faz com que o espectador esqueça pelo tempo do filme de seus problemas pessoais, de horários, de qualquer coisa externa e se sinta parte do filme, se preocupe com os problemas do filme. Uma boa direção marca o espectador de tal forma que o filme não seja esquecido depois de um tempo.
Dentre os indicados, alguns já se destacavam por trabalhos anteriores como diretores que conseguem fazer sua marca no espectador.
Acho que é difícil esquecer Seven - Os Sete Crimes Capitais, ou O Curioso Caso de Benjamin Button, ou o favorito do público masculino: Clube da Luta. Há muito tempo David Fincher conta suas histórias da melhor maneira e com originalidade. Rede Social não foi exceção. A forma de interação dos personagens, o ritmo rápido do filme, a forma de oscilar no tempo, poderia parecer exagerado, se não fosse pelo diretor, que conseguiu alinhavar tudo de modo que o filme não ficasse over, mas na medida certa.
Danny Boyle também conseguiu criar várias marcas nos espectadores. Difícil alguém que tenha visto e não se lembre de Trainspotting - Sem limites, filme que tratou de uma realidade presente de forma realista e crua. Outro filme que criou uma grande marca em mim e me fez perder o preconceito com ficcão científica foi Sunshine - Alerta Solar, em que Danny Boyle conseguiu me mostrar que ficção científica não é uma exploração banal de especulações sobre vida em outros planetas e coisa sobrenaturais, mas uma oportunidade para se refletir sobre a vida, a existência. Ganhador do Oscar por Quem Quer Ser um Milionário?, que não achei sei melhor filme, em 127 Horas, foi fantástico em se unindo ao talendo de James Franco para tornar o filme adequado, sem excessos no tempo e nem um pouco cansativo, mas com toques de realismo forte e extrema sensibilidade. Excelente.
Darren Aronofsky é um dos mais originais do mundo atual. Gosta de tratar sobre temas que envolvam crises internas, debates psicológicos. E o resultado, não raro, são filmes instigantes, profundos e perturbadores. Réquiem Para um Sonho é um dos filmes mais fortes já feitos. Um tapa na cara em relação à realidade das drogas. Uma forma de mostrar como o ser humano pode se degradar. Choca, mas mesmo assim é um filme bonito, para aqueles que não são hipócritas. A Fonte da Vida é difícil, mexe muito com fantasia, mas novamente quer discutir tema profundo, morte. O espectador que não precisa de linearidade e consegue apreender além, realmente se marca com o filme. Em O Lutador, discute fracasso, velhice. E opta por um ator que estava afastado do cinema, mostrando sua escolha ousada. Em Cisne Negro, escolheu uma filmagem fechada, que acompanha a personagem de perto, daí a necessidade de ser uma atriz excelente, como Natalie Portman, para transmitir nas mínimas expressões a tensão, o desespero, a agonia. O espectador chega a ficar tonto em alguns momentos. A tensão do personagem consegue ir além das telas.
David O.Russel, apesar de não ter tantos filmes marcantes em sua carreira, conseguiu desenvolver excelente trabalho em O Vencedor, conseguindo transmitir a dinâmica perturbada da família de Micky Ward, com seus ciúmes, preferências, explorações, protecionismos, em contraste com a necessidade do individualismo dos personagens que ao mesmo tempo que não se soltam daquela simbiose sentem necessidade de seguirem voos solos.
Os irmãos Coen também não decepcionaram. Contaram uma história que envolve coragem, costumes antigos, solidão, pelo olhar de uma garota jovem que já precisa assumir responsabilidades de adultos. E não se pode deixar de destacar o grande destaque do filme, Hailee Steinfeld. Como não tinha ouvido muito falar sobre ela, fiquei realmente supreendida com sua interpretação sem defeitos. Mais ainda sendo tão jovem. Jeff Bridges estava bem, mas Hailee Steinfel roupa a cena. E mesmo Matt Damon, de quem eu gosto bastante, é páreo para Hailee. Só não entendi porque concorreu como atriz coadjuvante, uma vez que é sem dúvida a principal do filme.
E por fim, o vencedor do Oscar. Tom Hooper. Não tem uma carreira de expressão, pois praticamente não tem carreira, mas conseguiu contar uma história real de forma bonita, evitando a sisudez. Mas só. Definitivamente, não vi nenhuma originalidade, ou destaque de direção. Colin Firth vai além da direção e impressina em seu trabalho. Também Geoffrey Rush. Mas é isso. Nada mesmo de espetacular e, para mim, não merecia o Oscar, apesar de ter feito um bom filme.
E também não basta um bom filme para merecer ganhar um Oscar de melhor filme.
Como já ressaltado, O Vencedor, Cisne Negro e 127 Horas são filmes que têm muito mais a oferecer. Além de discutir questões mais profundas. Rede Social não fica atrás. The Kids Are All Right me surpreendeu bastante, pois imaginava uma comédia romântica das mais piegas e se mostrou um filme profundo, sensível, sem exageros e com boas interpretações. Inception é mais revolucionário e mesmo assim não é sensacionalista ou se aproxima de besteirol barato, o que seria difícil de se esperar de Christopher Nolan, realmente. Toy Story 3 é maravilhoso. Sensível. Profundo. Divertido. Bem-humorado. Espirituoso. Melhor que O Discurso do Rei. Winter's Bone é diferente. Angustiante. Frio. Bonito. Várias opções para o Oscar. Várias boas opções e uma má escolha.
E falando em boas opções, queria registrar minha discordância de um comentário de José Wilker hoje na CBN, ao responder afirmativamente que todos os filmes do ano tinham o mesmo nível e eram medianos. Ora, o fato de terem muitos filmes de mesmo nível não significa que sejam todos medianos. Podem ser todos ruins, todos medianos, ou todos muito bons. Eu fico com a última opção. Muitos filmes bons. Um bom ano para o cinema.
Espero que esse ano também seja recheado de boas opções de diversão na área do cinema.

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